As PERIPÉCIAS DE HOMERO PELOS ESPAÇOS, REAIS E IMAGINÁRIOS, DA ANTIGUIDADE. Ou, como a questão da arte foi encaminhada por diferentes filósofos antigos

  • Antonio Leandro Gomes de Souza Barros Unicamp

Resumo

A chamada “virada espacial” nos estudos literários supõe o exame não apenas das representações de lugares em si mesmos, mas sobretudo a experiência de orientação, deslocamento e posicionamento. Uma rede de espacialidade tanto objetiva quanto afetiva, fundamental para a própria consciência do ser. O que levou Robert Tally a parafrasear Descartes: “Mapeio, logo sou.” Paralelamente, estudiosos de literatura como Giambattista Vico, Erich Auerbach e Bruno Snell posicionaram Homero e seus poemas como os pontos iniciais do desenvolvimento do modo de pensar ocidental, dessa forma específica de consciência do ser. Ao mesmo tempo o ponto mais afastado, e o ponto original. Assim, neste artigo propomos então dois movimentos. O primeiro, na introdução, é relacionar as duas correntes críticas mencionadas a partir das próprias questões espaciais que encontramos na Ilíada e na Odisseia, mas também da questão cartográfica que perpassa a chamada Questão Homérica: o debate sobre a existência ou não do Homero histórico. O segundo é propriamente o esforço do artigo: uma vez elaborada uma rede de espacialidade que envolve Homero e seus poemas, passamos a percorrer a efetiva cartografia que as diferentes escolas de filosofia antiga acabaram por diagramar nas suas relações com Homero. Heráclito sugere espantar o poeta aos golpes, Xenófanes parece que o perseguia pelos caminhos, Platão o teria expulsado de sua cidade ideal, ao passo que Aristóteles lhe teria devolvido a recepção, com os epicuristas Homero foi acomodado numa vila, e, finalmente, com os estoicos ele foi estimulado à circulação cosmopolita.
Publicado
2022-12-31